sábado, 18 de maio de 2013

Sobre a Greve dos Professores de São Paulo

22 de Abril 2013


LEIAM!

É leitura obrigatória, esse brilhante texto do meu colega de trabalho professor de filosofia Claudio Domingos Fernandes.

Me perdoe professor, por reproduzir seu texto sem autorização. Mas é para bem do País!
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Caros Professores

I - Narra a Sagrada Escritura que durante a travessia do deserto, após terem sido libertados do cativeiro, os Filhos de Abraão murmuravam contra Moises e Aarão: “Quem nos dera tivéssemos morrido pela mão do senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, quando comíamos pão a fartar! Tu nos trouxeste ao deserto, para matar de fome a toda esta multidão”.

II - Parece que Gilberto Freire colocou na boca dos negros após a sanção da Lei Áurea as mesmas queixas. “Uma vez libertados do cativeiro, mas deixados à própria sorte, muitos preferiam as chibatas que a liberdade, pois no cativeiro não faltava angu”.

Eu tenho um respeito enorme pelos professores que não paralisarão suas atividades neste período de greve. No entanto, somente por aqueles que estão plenamente contentes e realizados; que nos últimos anos não se sentiram humilhados, destratados, desrespeitados, desvalorizados por governadores, secretários, diretores, coordenadores, alunos, pais de alunos, e companheiros de profissão; que aplaudem e defendem sem ressalva a política educacional implementada neste Estado; que estão contentes com o desempenho de seus alunos, vítimas do sistema de aprovação, da estrutura de sua escola, das condições em que seus professores trabalham; que trabalham com satisfação e sentem que ser professor é uma vocação que merece sacrifício e humilhação e, por isso, trabalham três períodos e acumulam cargos por convicções firmes que com tal sacrifício estão construindo um mundo melhor; que aceitam incondicionalmente, um índice de 2,1% de reajuste. A vocês professores, eu só posso dizer parabéns! Eu os invejo! Continuem firmes! 

Aos demais que continuam suas atividades, não obstante todo seu descontentamento, sua desmotivação, sua indignação e seus murmúrios surdos, meu obsequioso silêncio. Já sois por demais destratados, não quero ser mais um a humilha-los.
Mas não posso deixar de tecer algumas considerações. 

Eu não me sinto representado pela APEOESP, sei que muitas de suas manobras são políticas. Por isto, respeito o legítimo receio às intenções da APEOESP. No entanto, há momentos que temos que nos manifestar e assumir posições claras. E está não é uma luta da APEOESP, esta é uma luta minha: Professor, não sindicalizado, que não pertence a partido político nenhum. Eu não entro todos os dias em sala de aula, eu não corro de uma escola a outra, eu não cumpro três jornadas, eu não sou categoria “O” ou “F”. Eu não sei, portanto, de sua dor e de suas angustias. No entanto, sinto-me desmotivado, desvalorizado, humilhado (oferecer dezoito centavos de reajuste por hora aula é humilhar-me, oferecendo-me esmola). Mesmo não sendo sindicalizado, mesmo não confiando na APEOESP eu assumo esta luta, pois diz respeito a minha vida, a minha atividade e para o bem ou para o mal vai refletir sobre mim. Querendo ou não já fui envolvido.

Lá na frente, pode ser que não alcancemos o almejado, pois esta é uma luta sem garantias. No entanto, entrar em sala de aula é assumir que estamos de acordo com o projeto político pedagógico deste governo, com sua política de desmantelamento do ensino público, com a desvalorização do profissional de educação, com sua defesa de que o fracasso de nossos alunos é responsabilidade apenas nossa que não sabemos ensinar o que justifica recebermos o que recebemos: migalhas
Quando estamos sobre fogo cruzado, temos que optar com quem fazer aliança. E neste momento ou eu engulo tudo aquilo que o governo vem propondo, ou eu assumo o risco de confiar numa entidade que diz me representar. O receio quanto ao futuro é legitimo, pois o temor é uma virtude. No entanto, não arriscar um movimento se quer; não esboçar reação alguma, com o medo de se perder o que não está garantido (que garantias o governo está oferecendo? Quantas garantias já foram perdidas nos últimos anos? O que temos ganhado com nosso assentimento tácito a cada nova proposta deste governo?) é condenável. 

Retomo: A você professor que acredita que lecionar é vocação e abraça por amor tal atividade. BOA AULA! Aos demais, meu silêncio obsequioso: O governo e a sociedade já os humilham demais!

CLAUDIO DOMINGOS FERNANDES

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