quinta-feira, 3 de maio de 2012

STF, Cotas e o caminho racista das pedras



STF, Cotas e o caminho racista das pedras

O resultado do julgamento de Cotas e das Ações Afirmativas pelo STF, nos dias 25 e 26 de Abril em Brasília, não foi obra do acaso. Ao contrário, nos custaram vidas e muitos anos de luta. Para além da resistência ancestral nos séculos de escravidão e no pós-abolição, nos últimos dez anos as cotas foram alvo de uma covarde campanha promovida em conjunto pelos grandes meios de comunicação do país, tendo como atores parte importante das elites políticas, intelectual e artística, quando podemos destacar:

Os Deputados Bolsonaro “pai” – federal – e “filho” – estadual –, que além de árduos defensores da ditadura de 64, ocuparam a linha de frente na batalha contra cotas (http://migre.me/8UHjs) em Brasília e no Rio de Janeiro;

O latifundiário Ronaldo Caiado (DEM), que protocolou pessoalmente uma tentativa de impedir a realização da Audiência Pública sobre cotas, promovida pelo STF, em março de 2010 (http://migre.me/8UGz2). Audiência Pública na qual o hoje afogado em “cachoeiras”, Demóstenes Torres (Ex-DEM), sugeriu que as relações sexuais entre mulheres negras e seus senhores seriam “consensuais” (http://migre.me/8UGPn), além de responsabilizar os próprios negros pela escravidão (http://migre.me/8UGSD);

Os acadêmicos Yvonne Maggie, Peter Fry e Demétrio Magnoli – este último, crítico da instalação da Comissão da Verdade e defensor da apuração de crimes cometidos por grupos terroristas que se levantaram contra a ditadura de 64, tal como registrado em sua participação no documentário “Reparações” (http://migre.me/8UHrA);

Ali Kamel, diretor de Jornalismo da Rede Globo de televisão, autor do Livro “Não Somos Racistas”, que chegou a expor sua obra em horário nobre, em cena da novela “Duas Caras” (http://migre.me/8UL7n);

O poeta Ferreira Goulart e o Cantor Caetano Veloso (ironicamente, autor da música “Haiti”), que entre outros artistas, assinaram o Manifesto Contra Cotas (http://migre.me/8ULef);

Até mesmo nas ciências genéticas foram buscar argumentos para combater a política de cotas, quando a partir dos estudos de Sérgio Pena, afirmou-se que o sambista Neguinho da Beija-Flor seria geneticamente mais europeu do que africano (http://migre.me/8ULx8).

Nesse mesmo período de longa batalha, movimentos negros, ong’s, grupos estudantis, intelectuais e também políticos e artistas se dedicaram incansavelmente no sentido de garantir os avanços para a população negra. E graças a essa militância, experiências de Cotas para negros lograram êxito e demonstraram na prática a sua eficiência, quando comparada aos métodos universalistas e tradicionais. Uma das grandes mobilizações aconteceu em São Paulo, no dia 6 de Março de 2010, um dia depois do encerramento da Audiência Pública sobre Cotas, promovida pelo STF em Brasília. Mais de 500 estudantes se reuniram para uma grande Aula-Pública em defesa das Cotas (http://migre.me/8UFnK), seguida de uma passeata pelas ruas do centro de São Paulo (http://migre.me/8UFjA).

O julgamento do STF que confirmou por unanimidade, num placar simbólico (10 a 0), a constitucionalidade das cotas, foi um duro golpe para as elites racistas do Brasil. Mas qual a motivação para que a nata da burguesia e da velha direita tenham se empenhado tanto em derrotar as políticas de cotas para negros em universidades? No fundo, o debate sobre cotas revelou a forte dimensão racial da luta de classes no Brasil e nos serviu para levantar a poeira que expõe o posicionamento conservador e racista das elites brasileiras, muitas vezes compartilhado por setores ditos progressistas e partidos de esquerda.

A partir do fôlego que alcançamos com a vitória do STF, precisamos acumular forças, formar mais e mais ativistas, provocar naqueles que conseguimos reunir a dúvida, a interrogação em relação às desigualdades, ao racismo, à homofobia, ao machismo, à precariedade da educação pública e tantos outros temas. Ao mesmo tempo precisamos movimentar os corpos, precisamos fomentar a cultura do protesto, da prática da reação e isso só se dá através de a uma militância ativa. Os grupos de militantes negros, de todas as organizações do movimento negro, precisam voltar para a rua. Precisamos de um movimento negro que faça trabalho de base permanente, que deixe um pouco de lado os gabinetes, os palanques e os camarotes e volte para as ruas, para o fomento da rebeldia negra.

Nas palavras do Ministro Ayres Britto, presidente do STF, quando do encerramento do julgamento histórico, “o Brasil ganha (...) um motivo para olhar para o espelho da história e não corar de vergonha”. De onde estamos, sabemos que ainda há muito do que se envergonhar no Brasil, em especial no que diz respeito às desigualdades sociais que atingem a população negra. Mas essa batalha nós vencemos! Seguimos com armas mais poderosas. Agora, é transformar a vitória jurídica em prática revolucionária.





Douglas Belchior
Professor de História e Sociologia da Rede Pública Estadual de SP
Membro do Conselho Geral da UNEafro-Brasil
Facebook: Douglas Belchior

Um comentário:

Carolina disse...

Depois de ler isso em outro site Segundo Douglas Belquior, professor de História e Sociologia e membro da UneAfro, São Paulo deveria ter um programa de cotas semelhante ao do governo federal, que reserva 50% das vagas em universidades federais para alunos egressos do ensino público, com uma reserva dentro desse fatia proporcional ao número de negros, pardos e índios em cada estado do País.

De acordo com ele, o governo de São Paulo não acata as decisões do STF e do governo federal de incluir essa população no ensino superior público, e busca maneiras de driblar a obrigação, como com a proposta do Pimesp. "São Paulo não participa da vida política do País.É uma ilha de exclusão, uma ilha de racismo", disse.
Só posso concluir que o senhor está se contradizendo, cotas apenas criam MAIS preconceito contra negros. Além de que se você é a favor de cotas raciais você automaticamente admite que negros tem capacidade intelectual menor, esse negocio de incluir a população negra na sociedade é passado, é apenas uma desculpa. Existem muitos mais negros 'ricos' e inseridos na sociedade, e brancos pobres, a eles não há nenhum direito certo? Mas se for negro, ha?! Isso sim é ser racista. Você afirma que negros são "mais especiais" que qualquer outra raça...